sábado, 29 de junho de 2013

Práxis

eu fiz um soneto de amor
mas na verdade eu só queria transar
inventei palavras bonitas e menti
pelo simples fato de não conseguir te levar
de primeira
na conversa
fiada
pra cama
minha
eu queria, você queria
te querer ardia
taquicardia
estava aqui, presente
quente
pronta
doente
explodi em cores
em verde bandeira
pintei o muro da minha casa
te dediquei a minha noite inteira
bebi meus medos, venci a introspecção
botei meu vestido mais bonito
pra te ganhar
era um envolvimento
pernicioso
complicado
errado
e proibido
eu era a malícia
a malícia pura da vida
dessa vida
e da outra
de início, fim e meio
do tempero
da madrugada
e do cheiro
da tua pele.




sexta-feira, 28 de junho de 2013

Esse texto é para Deborah Lindau Pepe. A minha Pepe


[19:05:04] aline moreira do amaral says para deborah lindau pepe:

[é foda quando o amor não tem pra onde escoar né?
a gente só faz esperar
esperar que passe
esperar que as coisas mudem
esperar os bons ventos da melhora
e nada]

meu amor,
eu não consigo imaginar a vida sem você
sem essas conversas

tudo isso teria sido uma catástrofe de proporções inimagináveis se você não estivesse a habitar a minha vida, a minha casa, os meus espaços, o meu skype (!), os meus sonhos. às vezes lembro das nossas conversas non senses enquanto volto pra casa e rio sozinha por horas. você me faz mais leve. e tira alguns pesos das minhas costas, aliviando a dor de uma vida em transição.
a gente briga, e a gente treta, e a gente se xinga.
só faço isso com quem eu amo e respeito. e admiro.
sei que sua vida também não tá fácil.
tamo tudo perdida, desiludida, sem paciência.
 mas você sabe melhor do que ninguém o quanto eu tô aqui pra você, pra lutar, pra chorar, pra celebrar.
e você tem que se dar uma chance.
eu também tenho.
pode não ser amanhã. mas será algum dia
amanhã vai ser outro dia!
porque você é tão contagiante, tão cheia de energia e força vital...
isso vai passar.
você sabe
eu sei.
mas enquanto a tempestade estiver caindo
nós vamos dançar na chuva
nós  vamos entrar nessa onda
porque é isso que a gente faz de melhor


quem tem amigo tem tudo.
então, mandar ver
e tudo o que tiver que ser nessa vida, meu amor, vai ser.




é nóis.

te amo.

 ali





sábado, 22 de junho de 2013

Ana Bolena

"Do you think a crown gives you power?"

um casamento destruído. uma nação desgraçada. você veio feito uma estrangeira, adentrando terras que não eram suas. uma bruxa, uma feiticeira. envenenou o pobre rei, angustiado, depressivo e infantil, alimentando seu ódio contra Leão e Castela. encarcerou a devota e querida rainha a um mar de suplícios sem fim. teus caprichos custaram a vida de milhares de servos, que temerosos, avisaram o pobre rei de suas artimanhas ardilosas. de nada adiantou. você virou a cabeça daquele insano homem feito de carne, osso, sangue e porra; você o fez romper com a Sua Santidade, o Papa de Roma. a ruína, sua, era só uma questão de tempo. aquele homem só te quis porque não te podia ter. você não percebeu isso? a partir do momento que você colocou aquela coroa você deixou de ser a estrangeira exótica e fantasiosa, estrangeira das palavras e inspirações sexuais: você virou a mulher do rei. não se lembra do que aconteceu à última?
você salgou a terra; queimou as pontes; isolou o reino; tirou o sono; decapitou princesas; você era a própria peste e tudo recaiu sobre as suas costas, magras e cansadas. você não segurou nada. como poderia? sempre coloquei a culpa de nossa desgraça em você. a casa caiu. o rei não tinha mais como te justificar. mandou te cortar a cabeça. e tudo isso pra que? por que? pra quem?
o rei, com sua coroa idiota, se safou ileso e foi aclamado pelo povo. coitado. viu sua cabeça rolar e soltou um risinho frouxo de desprezo, de canto de boca. o rei. orei.
eu entendi. você era um demônio muito particular, daqueles que vem ao mundo dos homens para destruir. sua ascensão foi meteórica. sua queda, um espetáculo publico, cheio de rancor e juras de maldição. 
e no final das contas, seu castigo foi muito maior do que a morte: passarás a eternidade toda sendo a outra.
Vem,
Te direi em segredo
Aonde leva esta dança.

Vê como as partículas do ar
E os grãos de areia do deserto
Giram desnorteados.

Cada átomo
Feliz ou miserável,
Gira apaixonado
Em torno do sol.


Rumi

sexta-feira, 14 de junho de 2013

a mala

Eu pus tudo o que sobrou de mim naquela mala
devia ter uns quilos nela
eu me esquartejei toda
dilacerada entre
papéis
e
fotos
e memórias
e
tudo
preenchi cada pedacinho dela
com os meus
todo o esforço de uma vida ali
todas as reminiscências
couberam
e enquanto eu ia colocando
o que fomos nós
o que construímos
eu voltava um pouco no tempo
nostálgica, a mala gritava comigo
furiosa
o que doí é o fim, essa angústia
todas as coisas sagradas
que não me pertenciam mais
eu a fechei, eu a lacrei;
eu a empurrei escada abaixo
não queria mais ouvir as magóas
daquilo que poderia ter sido
mas não foi

usuário na via

você era o trem
eu era a moça acorrentada à via
e você passou, assim
impiedoso
furioso e acelerado
eu corria as estações
pedindo por misericórdia
indefesa e infeliz
ninguém veio ao meu encontro
ninguém veio me salvar
ninguém ouviu aqueles gritos de socorro
ninguém podia
era o meu maior medo, esse
de ficar estirada na via dos desesperados
impedindo a viagem dos outros
morrendo aos poucos, aos pedaços
angustiada,
olhando a vida passar pelos trilhos

terça-feira, 4 de junho de 2013

1456 dias

durante
1456 dias, mais ou menos
eu fui tua
tua mulher
tua companheira
tua amiga
tua parceira
enquanto tu foste para mim o universo todo
desconhecido, infinito, temido
eu via as nebulosas em ti
achava lindo
um corpo celeste caindo
um cometa na velocidade da luz
devastando
1456 dias, mais ou menos
e agora as pessoas me dizem para eu seguir minha vida
e viver a vida
e me permitir
só gostaria de descobrir
o que elas sabem afinal
sobre supernovas e explosões gasosas,
sobre tempestades solares
&
sobre a distancia entre o sol e a terra
os anéis de saturno
que brilham para mim todos os dias
sem um pingo de vergonha
e a chuva de meteoros
que dança na galáxia
como se não houvesse amanhã
e eu era a lua
e me alimentava da luz dos outros
da tua
as oito luas de Júpiter
1456 dias, mais ou menos
de incerteza e de tempos de guerra
me vesti de estrelas
tua noiva, tua mulher
1456 dias de um amor incomum
estou há anos luz de mim mesma

segunda-feira, 3 de junho de 2013

"winter is coming"

adentrei a noite
resisti bravamente aos encantos do sono
lamentavelmente recusando
adormecer
parece que eu nunca vou saber
o que de fato nos une
o outro
me espreita pela janela
e sabe dos meus passos
e dos meu deslizes
sabe o quanto você me acalenta
com as suas palavras
e o quanto isso é notoriamente errado
ouvindo os sons da minha respiração marcada
suspirosa,
eu conto as horas, todas
esperando os bons ventos da melhora
porque o inverno há de chegar
e quando ele chegar
quero estar inteira
e recebe-lo de braços abertos
e coração leve
estaremos juntos
eu & ele - frio e impetuoso
o destino dos homens têm dessas coisas