sexta-feira, 29 de novembro de 2013

mind blowing friday - são paulo, texas I

aquela parte de mim
que estava morta
mas insistia em viver aqui dentro
como um parasita
um axioma
uma promessa de bêbado
um moribundo
enlouquecido
como naquele seriado de zumbi
foi enterrada ontem


não vi ninguém lamentando
não teve choro nem vela
esse deve ser o grande lance dos amores que não deram certo
a gente olha pra eles 10 anos depois

entendemos o porquê da fúria violenta do destino


seu ultimo pedido foi a inscrição na lápide carcomida:
"aqui jaz um amor fodido - agora e para todo o sempre"


paguei o preço pra saber que
 ele nunca foi
&
 nunca será

está morto
e
enterrado
num passado-presente
por mim inventado
então eu desinvento
e finjo que isso nunca existiu
melhor assim
pra nós
melhor assim

não há ódio
não há magoa
não há nada minha gente
restou é nada

e a vida segue



terça-feira, 19 de novembro de 2013

Gods and Monsters ou licença poética parte II

" A água é a aceitação do desconhecido, de demônios, de emoções, de deixar ir e permitir-se fluir livremente com ela. Venha para a água disposto a ser consumida por ela, mas também tenha a confiança de que a sua capacidade irá trazê-lo de volta" - Nicholas Mevoli

Nicholas Mevoli , fenômeno do mergulho livre (apneia) , morto ontem. pela própria confiança.
após atingir 72 metros no nado livre.
72: metros.
no.nado.livre.
não voltou mais.
não voltou nunca mais.

(You got that medicine I need

Dope, shoot it up

Straight to the heart, please

I don't really wanna know what's good for me

God's dead, I said

 "Baby that's alright with me")

tenho tanta coisa pra dizer sobre isso que não consigo dizer nada.


.
..
....

porque todas as notícias do jornal parecem ter sido escritas pra mim??

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

I sing the body eletric

eram três da manhã e lá estava eu. deitada no escuro. ouvindo lana del rey. era yayo. não, era cola. com certeza era cola. me lembro da voz dela, etérea ecoando pelo quarto, sussurando "my pussy taste like pepsi cola". lana canta alguma coisa de mim. ainda não descobri o que é. eu nem ligo. ela canta pra mim e me acalma, quando não me transtorna. tá tudo certo.
eram três da manhã e eu estava lá.acabada, maquiagem borrada, bêbada, dopada e sentimental como um trapo velho. em frangalhos. toda errada, toda torta. e pensei: finalmente.
eu deitada na cama, em posição de vítima de um destino inglorioso; eu deitada, ouvindo compassadamente os minutos despontarem num relógio que só corria pra mim: devagar, lento, lamurioso. então eu espero alguma coisa grande acontecer, uma foda, uma bebida mais ou menos, uma tragédia. nada acontece. nada. o mundo diante de mim está estático como nunca esteve antes. eu ouço, além do relógio ofegantemente lerdo, todos os barulhos que cercam a minha vida a essa hora da madrugada. cachorros latindo, risos distantes, silêncio, silêncio e mais uma infinidade de silêncio.
Too much of no sound; unconfortable silence could be so loud. 
daí que eu me peguei nessa nova fase da jornada: a de dançar com o sofrimento à mim amarrado. como amigos, valsamos pelo quarto ao som da lana, menina que sou, choramos umas lágrimas vagabundas, sem-vergonha. vislumbramos um futuro-passado-presente que não existe. ele está ligado à mim e eu a ele, porque algumas mazelas do coração a gente não contorna. a gente engole. então, ao invés de fingir que ele nunca me pegou (porque sempre corri dele como do diabo), eu o aceitei de braços abertos porque assim tinha que ser. eu tinha que passar por aquilo. ponto.
o sofrimento parecia uma mantra de espera.
espera do que?
não importa mais.
a saudade se tornou agridoce
saudade agridoce
são lembranças adocicadas
que se deixam arranhar
pela mais salgada
das amarguras.
finalmente, eu pensei.
as nuance todas do meu quarto estavam destoantes. uma vela acesa, que tremulava como num quadro barroco. algo sagrado compunha aquelas visões de morte e vida do meu coração fodido.
aceitei não só o fato de estar sofrendo: aceitei todas as minhas andanças tortas,  toda a minha infantilidade imbecil, aceitei o meu eu mais escondido, mais machucado. abracei todo o amor que foi a mim destinado, e todo o amor que eu destinei à alguém sabendo que só assim é que se pode viver.

 

essa é uma belíssima imagem (que me deixou completamente sem ar e é realmente uma das imagens mais lindas que já vi na vida) do vão entre as placas tectônicas que separam a América do Norte e a Eurásia, de 2011.

Alexander Mustard mergulhou cerca de 80 pés para registrar o belo cenário entre as placas tectônicas que por ano aumenta um centímetro de distância.


 o
vão
que 
aumenta
um 
centímetro
por
ano


 qualquer semelhança com a minha vida é mera licença poética

sábado, 9 de novembro de 2013

das músicas que eu gostaria de ter escrito, parte III


Fireside

I can’t explain but I want to try
There’s this image of you and I
And it goes dancing by in the morning
And in the night time
There’s all these secrets that I can’t keep
Like in my heart there’s that hotel suite
And you lived there so long
It’s kinda strange now you’re gone
I’m not sure if I should show you what I’ve found
Has it gone for good?
Or is it coming back around?
Isn’t it hard to make up your mind?
When you’re losing and your fuse is fireside
There’s all those places we used to go
And I suspect you already know
But that place on memory lane you liked still looks the same but something about it’s changed
I’m not sure if I should show you what I’ve found
Has it gone for good?
Or is it coming back around?
Isn’t it hard to make up your mind?
When you’re losing and your fuse is fireside
And I thought I was yours forever
Maybe I was mistaken
But I just cannot manage to make it through the day
Without thinking of you lately
I’m not sure if I should show you what I’ve found
Has it gone for good?
Or is it coming back around?
Isn’t it hard to make up your mind?
When you’re losing and your fuse is fireside

arctic monkeys, fireside am, 2013.
"A sua antiguidade em preceder e sobreviver a sucessivas gerações telúricas: o seu predomínio noturno: a terribilidade da sua proximidade isolada dominante implacável resplandecente: os seus presságios de tempestade e de calma: o estímulo da sua luz, o seu movimento e a sua presença: a admonição das suas crateras,
dos seus áridos mares,
do seu silêncio: 
o seu esplendor, quando visível,
a sua atração quando invisível...”
 
James Joyce, numa das coisa mais lindas já escritas.

sendo

ela é
apenas
uma garota perdida
e
ele é
parte integrante
da verdade
absoluta


Levada Boa

me abraça
me leva pro Camboja, vamos fugir agora
depressa
antes que acabe o encanto
antes que as horas parem novamente
me abraça, me abraça forte mesmo
me deixa sentir o seu cheiro
e eterniza-lo no meu corpo coberto de marcas roxas
amareladas
azul turquesa
me beija com o mesmo ardor da primeira vez
vamos embora
faz a mala, eu espero
me embala
embala essa minha vida miserável
me dê a mão
vamos sair
pra ver o sol


terça-feira, 5 de novembro de 2013

mas minha nossa senhora


" Você revoluciona minha vida existindo dentro dela "


estou um pouco passada com essa frase,
e de fato
parece que tomei um soco na cara
é assim que me sinto
entorpecida com essas palavras


você
revoluciona
minha
vida
existindo
dentro
dela

e-x-i-s-t-i-n-d-o d-e-n-t-r-o d-e-l-a



translúcida

translúcida, olhei
para tudo o que havia sido
cantei
a travessia dos mares
saudando a guerra
que veio devagar
feito a chuva rala
que escorria dos meus pés
(...)
translúcida, olhei
a transformação do mundo
chorei pela beleza absoluta
intocável, resoluta
enlutada, adorável
respiração falha
as pausas estruturalmente marcadas
o ato suicída
de não esperar o amanhã
contemplando cada minuto
não esperar o amanhã
nem o depois
(...)
nem o depois

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

passivo-agressivo II

pensou que era pra sempre
primeiro o amor; depois o sofrimento
aprendeu
que o pra sempre não é pra todo mundo.
não é qualquer um que aguenta.