segunda-feira, 18 de novembro de 2013

I sing the body eletric

eram três da manhã e lá estava eu. deitada no escuro. ouvindo lana del rey. era yayo. não, era cola. com certeza era cola. me lembro da voz dela, etérea ecoando pelo quarto, sussurando "my pussy taste like pepsi cola". lana canta alguma coisa de mim. ainda não descobri o que é. eu nem ligo. ela canta pra mim e me acalma, quando não me transtorna. tá tudo certo.
eram três da manhã e eu estava lá.acabada, maquiagem borrada, bêbada, dopada e sentimental como um trapo velho. em frangalhos. toda errada, toda torta. e pensei: finalmente.
eu deitada na cama, em posição de vítima de um destino inglorioso; eu deitada, ouvindo compassadamente os minutos despontarem num relógio que só corria pra mim: devagar, lento, lamurioso. então eu espero alguma coisa grande acontecer, uma foda, uma bebida mais ou menos, uma tragédia. nada acontece. nada. o mundo diante de mim está estático como nunca esteve antes. eu ouço, além do relógio ofegantemente lerdo, todos os barulhos que cercam a minha vida a essa hora da madrugada. cachorros latindo, risos distantes, silêncio, silêncio e mais uma infinidade de silêncio.
Too much of no sound; unconfortable silence could be so loud. 
daí que eu me peguei nessa nova fase da jornada: a de dançar com o sofrimento à mim amarrado. como amigos, valsamos pelo quarto ao som da lana, menina que sou, choramos umas lágrimas vagabundas, sem-vergonha. vislumbramos um futuro-passado-presente que não existe. ele está ligado à mim e eu a ele, porque algumas mazelas do coração a gente não contorna. a gente engole. então, ao invés de fingir que ele nunca me pegou (porque sempre corri dele como do diabo), eu o aceitei de braços abertos porque assim tinha que ser. eu tinha que passar por aquilo. ponto.
o sofrimento parecia uma mantra de espera.
espera do que?
não importa mais.
a saudade se tornou agridoce
saudade agridoce
são lembranças adocicadas
que se deixam arranhar
pela mais salgada
das amarguras.
finalmente, eu pensei.
as nuance todas do meu quarto estavam destoantes. uma vela acesa, que tremulava como num quadro barroco. algo sagrado compunha aquelas visões de morte e vida do meu coração fodido.
aceitei não só o fato de estar sofrendo: aceitei todas as minhas andanças tortas,  toda a minha infantilidade imbecil, aceitei o meu eu mais escondido, mais machucado. abracei todo o amor que foi a mim destinado, e todo o amor que eu destinei à alguém sabendo que só assim é que se pode viver.

 

Nenhum comentário: