terça-feira, 23 de abril de 2013

uma carta para frida kahlo


frida,



às vezes eu me sinto a mulher nesse quadro, friducha. me sinto você, quando diego, com toda a sua gordura e maluquice fez com que você chorasse, chorasse sangue e sofresse feito uma maldita.
o destino tem dessas coisas né? eu fui até a tua casa, aquela casa azul maravilhosa, fui celebrar a vida, as cores e a nossa ligação de outro mundo. foi provavelmente quando eu tava lá, contemplando tua cama e teu espelho de pintar que a casa caiu. a casa caiu friducha, e hoje, somos mulheres que reconhecem na dor o ponto de mudança e reviravolta de tudo o que vivemos.
tú me dá força, porque apesar de toda a adversidade o que eu vejo em suas obras, pequenas e intimistas, é a temperança. é a temperança que rege o mundo dos homens que erram. erram e nossos fazem tosar nossos cabelos, beber feito vaqueiros e blasfemar a vida. tua casa é tão linda, frida. tua casa é minha casa.
você sabe que isso é sobre perdoar né, frida? nos perdoar e perdoar o outro, ter essa coragem de seguir em frente. mas como eu li há pouco: there ain't no point in moving on til you got somewhere to go.
não perdoar é adoecer, e nós sabemos disso. não perdoar é não ter (a) onde ir.
me sinto tão pirada.
me sinto tão lúcida.
queria desligar esse piloto automático e cair no mar.
a salmoura me cura.
queria voltar e cultuar o senõr del veneno, na cidade onde meu coração se espatifou.
eu senti, frida. senti, assim como você sentiu quando (momentanêamente) perdeu seu panzon.
a gente sente. mulheres cancerianas e a dor de carregar o mundo. de gerar o mundo. de apaziguar o mundo.
esse seu quadro é tão emblemático pra mim.  tenho "unos cuantos piquetitos" impresso na minha mesa há anos, e sempre senti empatia pela mulher morta, nua e sem um par de sapato. nunca soube exatamente porquê, sempre pensei que fosse cancêr mais uma vez regendo a minha singela vocação de sofrer. mas não. essa mulher é você e sou eu também, e somos todas. todas.


porém (sempre haverá um porém, friducha) eu também me sinto você em "arbol de la esperanza"



"árvore da esperança, mantém-te firme"
se eu já não tivesse uma frase tua marcada nas minhas costas, eu escreveria essa.
você tem uma postura tão bonita, tão digna. serena, clara, viva.
"chora na tua cama que é lugar quente".
não importa o quão partida e dilacerada. tú botou o vestido mais vermelho de todo México e foi ser.

essa frase é sobre não ser covarde na vida.
deve ser por isso que eu te amo tanto, frida. mulheres corajosas, como as que tenho na minha familia, me inspiram a viver.
estou numa contra mão danada. porque às vezes eu só queria sentar no meio-fio e chorar um pouco pra lavar essa alma encardida.
às vezes não sinto força nos pés pra trilhar esse caminho.

mas a força tá aqui. em algum lugar.
assim como as suas cores que aquecem o inverno nesse círculo polar que a minha vida se tornou
suas cores me movem em apenas um sentido agora
único
unidade
ser
perdão


 obrigada, Magdalena Carmen Frieda Kahlo y Calderón
 minha  friducha,

da tua,
ali.


(olhos de sereia)

2 comentários:

vodca barata disse...

<3 <3 <3
que lindo

Rafael A.M. disse...

Uma Palavra: Caralho.

(acho que vc sabe que isso é um elogio, né?...rsssss