segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

passado-presente-futuro-passado

em 2011 eu escrevi no meu cadeninho de machu picchu:

"é algo que eu não tive, que você nunca pode me dar, eu me alimentei de mim mesma, me alimentei do meu próprio amor como uma canibal idiota e sedenta, sabendo com todas as virgulas que o meu destino estava fadado ao infurtúnio, eu me iludi porque quis que assim fosse, eu sofri todos os dias uma guerra fria e velada, onde não haviam inimigos, apenas o silêncio. eu vou sobreviver a você porque sou uma canibal e canibais sobrevivem a tudo"

estamos acabando o ano de 2013 e reafirmo: canibais sobrevivem a tudo.

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

mind blowing friday - são paulo, texas I

aquela parte de mim
que estava morta
mas insistia em viver aqui dentro
como um parasita
um axioma
uma promessa de bêbado
um moribundo
enlouquecido
como naquele seriado de zumbi
foi enterrada ontem


não vi ninguém lamentando
não teve choro nem vela
esse deve ser o grande lance dos amores que não deram certo
a gente olha pra eles 10 anos depois

entendemos o porquê da fúria violenta do destino


seu ultimo pedido foi a inscrição na lápide carcomida:
"aqui jaz um amor fodido - agora e para todo o sempre"


paguei o preço pra saber que
 ele nunca foi
&
 nunca será

está morto
e
enterrado
num passado-presente
por mim inventado
então eu desinvento
e finjo que isso nunca existiu
melhor assim
pra nós
melhor assim

não há ódio
não há magoa
não há nada minha gente
restou é nada

e a vida segue



terça-feira, 19 de novembro de 2013

Gods and Monsters ou licença poética parte II

" A água é a aceitação do desconhecido, de demônios, de emoções, de deixar ir e permitir-se fluir livremente com ela. Venha para a água disposto a ser consumida por ela, mas também tenha a confiança de que a sua capacidade irá trazê-lo de volta" - Nicholas Mevoli

Nicholas Mevoli , fenômeno do mergulho livre (apneia) , morto ontem. pela própria confiança.
após atingir 72 metros no nado livre.
72: metros.
no.nado.livre.
não voltou mais.
não voltou nunca mais.

(You got that medicine I need

Dope, shoot it up

Straight to the heart, please

I don't really wanna know what's good for me

God's dead, I said

 "Baby that's alright with me")

tenho tanta coisa pra dizer sobre isso que não consigo dizer nada.


.
..
....

porque todas as notícias do jornal parecem ter sido escritas pra mim??

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

I sing the body eletric

eram três da manhã e lá estava eu. deitada no escuro. ouvindo lana del rey. era yayo. não, era cola. com certeza era cola. me lembro da voz dela, etérea ecoando pelo quarto, sussurando "my pussy taste like pepsi cola". lana canta alguma coisa de mim. ainda não descobri o que é. eu nem ligo. ela canta pra mim e me acalma, quando não me transtorna. tá tudo certo.
eram três da manhã e eu estava lá.acabada, maquiagem borrada, bêbada, dopada e sentimental como um trapo velho. em frangalhos. toda errada, toda torta. e pensei: finalmente.
eu deitada na cama, em posição de vítima de um destino inglorioso; eu deitada, ouvindo compassadamente os minutos despontarem num relógio que só corria pra mim: devagar, lento, lamurioso. então eu espero alguma coisa grande acontecer, uma foda, uma bebida mais ou menos, uma tragédia. nada acontece. nada. o mundo diante de mim está estático como nunca esteve antes. eu ouço, além do relógio ofegantemente lerdo, todos os barulhos que cercam a minha vida a essa hora da madrugada. cachorros latindo, risos distantes, silêncio, silêncio e mais uma infinidade de silêncio.
Too much of no sound; unconfortable silence could be so loud. 
daí que eu me peguei nessa nova fase da jornada: a de dançar com o sofrimento à mim amarrado. como amigos, valsamos pelo quarto ao som da lana, menina que sou, choramos umas lágrimas vagabundas, sem-vergonha. vislumbramos um futuro-passado-presente que não existe. ele está ligado à mim e eu a ele, porque algumas mazelas do coração a gente não contorna. a gente engole. então, ao invés de fingir que ele nunca me pegou (porque sempre corri dele como do diabo), eu o aceitei de braços abertos porque assim tinha que ser. eu tinha que passar por aquilo. ponto.
o sofrimento parecia uma mantra de espera.
espera do que?
não importa mais.
a saudade se tornou agridoce
saudade agridoce
são lembranças adocicadas
que se deixam arranhar
pela mais salgada
das amarguras.
finalmente, eu pensei.
as nuance todas do meu quarto estavam destoantes. uma vela acesa, que tremulava como num quadro barroco. algo sagrado compunha aquelas visões de morte e vida do meu coração fodido.
aceitei não só o fato de estar sofrendo: aceitei todas as minhas andanças tortas,  toda a minha infantilidade imbecil, aceitei o meu eu mais escondido, mais machucado. abracei todo o amor que foi a mim destinado, e todo o amor que eu destinei à alguém sabendo que só assim é que se pode viver.

 

essa é uma belíssima imagem (que me deixou completamente sem ar e é realmente uma das imagens mais lindas que já vi na vida) do vão entre as placas tectônicas que separam a América do Norte e a Eurásia, de 2011.

Alexander Mustard mergulhou cerca de 80 pés para registrar o belo cenário entre as placas tectônicas que por ano aumenta um centímetro de distância.


 o
vão
que 
aumenta
um 
centímetro
por
ano


 qualquer semelhança com a minha vida é mera licença poética

sábado, 9 de novembro de 2013

das músicas que eu gostaria de ter escrito, parte III


Fireside

I can’t explain but I want to try
There’s this image of you and I
And it goes dancing by in the morning
And in the night time
There’s all these secrets that I can’t keep
Like in my heart there’s that hotel suite
And you lived there so long
It’s kinda strange now you’re gone
I’m not sure if I should show you what I’ve found
Has it gone for good?
Or is it coming back around?
Isn’t it hard to make up your mind?
When you’re losing and your fuse is fireside
There’s all those places we used to go
And I suspect you already know
But that place on memory lane you liked still looks the same but something about it’s changed
I’m not sure if I should show you what I’ve found
Has it gone for good?
Or is it coming back around?
Isn’t it hard to make up your mind?
When you’re losing and your fuse is fireside
And I thought I was yours forever
Maybe I was mistaken
But I just cannot manage to make it through the day
Without thinking of you lately
I’m not sure if I should show you what I’ve found
Has it gone for good?
Or is it coming back around?
Isn’t it hard to make up your mind?
When you’re losing and your fuse is fireside

arctic monkeys, fireside am, 2013.
"A sua antiguidade em preceder e sobreviver a sucessivas gerações telúricas: o seu predomínio noturno: a terribilidade da sua proximidade isolada dominante implacável resplandecente: os seus presságios de tempestade e de calma: o estímulo da sua luz, o seu movimento e a sua presença: a admonição das suas crateras,
dos seus áridos mares,
do seu silêncio: 
o seu esplendor, quando visível,
a sua atração quando invisível...”
 
James Joyce, numa das coisa mais lindas já escritas.

sendo

ela é
apenas
uma garota perdida
e
ele é
parte integrante
da verdade
absoluta


Levada Boa

me abraça
me leva pro Camboja, vamos fugir agora
depressa
antes que acabe o encanto
antes que as horas parem novamente
me abraça, me abraça forte mesmo
me deixa sentir o seu cheiro
e eterniza-lo no meu corpo coberto de marcas roxas
amareladas
azul turquesa
me beija com o mesmo ardor da primeira vez
vamos embora
faz a mala, eu espero
me embala
embala essa minha vida miserável
me dê a mão
vamos sair
pra ver o sol


terça-feira, 5 de novembro de 2013

mas minha nossa senhora


" Você revoluciona minha vida existindo dentro dela "


estou um pouco passada com essa frase,
e de fato
parece que tomei um soco na cara
é assim que me sinto
entorpecida com essas palavras


você
revoluciona
minha
vida
existindo
dentro
dela

e-x-i-s-t-i-n-d-o d-e-n-t-r-o d-e-l-a



translúcida

translúcida, olhei
para tudo o que havia sido
cantei
a travessia dos mares
saudando a guerra
que veio devagar
feito a chuva rala
que escorria dos meus pés
(...)
translúcida, olhei
a transformação do mundo
chorei pela beleza absoluta
intocável, resoluta
enlutada, adorável
respiração falha
as pausas estruturalmente marcadas
o ato suicída
de não esperar o amanhã
contemplando cada minuto
não esperar o amanhã
nem o depois
(...)
nem o depois

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

passivo-agressivo II

pensou que era pra sempre
primeiro o amor; depois o sofrimento
aprendeu
que o pra sempre não é pra todo mundo.
não é qualquer um que aguenta.

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

hank's letter to karen

Dear Karen,
If you’re reading this, it means I actually worked up the courage to mail it, so good for me.
You don’t know me very well, but if you get me started I have a tendency to go on and on about how hard the writing is for me. But this, this is the hardest thing I ever had to write.
There is no easy way to say this so I’ll just say it, I met someone. It was an accident, I wasn’t looking for it, I wasn’t on the make it was a perfect storm, she said one thing, I said another and the next thing I knew I wanted to spend the rest of my life in the middle of that conversation. Now there’s this feeling in my gut that she might be the one.  She’s completely nuts in a way that makes me smile, highly neurotic, a great deal of maintenance required. She is you Karen.
That’s the good news. The bad news is that I don’t know how to be with you right now, and that scares the shit out of me. Because if I am not with you right now I have this feeling we’ll get lost out there. It’s a big bad world full or twist and turns and people have a way of blinking and missing the moment. The moment that could of changed everything.
I don’t know what’s going on with us and I can’t tell you why you should waste a leap of faith on the likes of me. But damn you smell good, like home and you make excellent coffee that’s got to count for something, right? Call me!
Unfaithfully yours,
Hank Moody

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

das músicas que eu gostaria de ter escrito, parte II

Eu te amo

Ah, se já perdemos a noção da hora
Se juntos já jogamos tudo fora
Me conta agora como hei de partir
Ah, se ao te conhecer
Dei pra sonhar, fiz tantos desvarios
Rompi com o mundo, queimei meus navios
Me diz pra onde é que inda posso ir
Se nós nas travessuras das noites eternas
Já confundimos tanto as nossas pernas
Diz com que pernas eu devo seguir
Se entornaste a nossa sorte pelo chão
Se na bagunça do teu coração
Meu sangue errou de veia e se perdeu
Como, se na desordem do armário embutido
Meu paletó enlaça o teu vestido
E o meu sapato inda pisa no teu
Como, se nos amamos feito dois pagãos
Teus seios ainda estão nas minhas mãos
Me explica com que cara eu vou sair
Não, acho que estás te fazendo de tonta
Te dei meus olhos pra tomares conta
Agora conta como hei de partir.

chico buarque de hollanda, eu te amo, vida, 1980.

sábado, 28 de setembro de 2013

não se afobe não....

de novo né deus
(aquele lá que eu não venero)
querendo gritar ao mundo
as palavras entaladas na garganta
são ingritáveis, meu amor
ás vezes é melhor sufocar engasgada
e se curar com o próprio veneno,
que nada mais é que a vida em si
portanto,
querido deus sheeva da destruição
as vezes eu não te ouço
eu não ouço ninguém,
a não ser as batidas desse coração a dois mil por hora
não ouço
não quero
quero apenas gritar
hoje
HOJE
urgência!
o importante sempre será hoje
amanhã é nada
quando o chico cantou
não se afobe não, que nada é pra já
ele não me conhecia
porque os escafandristas não vieram
eles não virão
daí eu ri
porque eu tô esperando um sinal seu, deus sheeva
e ele também não virá
mas tudo bem
pra mim
agora...tudo bem
o não sinal é o sinal né?
entendi
obrigada


que Lôco

eu consigo ouvir meu coração bater

É isso

"Ainda não aprendi. e desconfio que não aprenderei nunca. pelo menos já sei algo valioso: é impossível me desligar da saudade porque é impossível me desligar da memória. É impossível se desligar daquilo que se amou.
Tudo sempre estará sempre junto conosco. sempre teremos tanto o desejo de refazer o bom da vida como o de esquecer e destruir a lembrança do mau. apagar as maldades que cometemos, desfazer a recordação das pessoas que nos prejudicaram, remover as tristezas e as épocas de infelicidade.
 É totalmente humano, então, ser um nostálgico, e a única solução é aprender a conviver com a saudade. talvez, para a nossa sorte, a saudade possa transformar-se, de algo depressivo e triste, numa pequena chispa para o novo, para entregar-nos a outro amor, a outra cidade, a outro tempo, que talvez seja melhor ou pior, não importa, mas que será diferente. e isso é o que todos procuramos todo dia: não desperdiçar em solidão a nossa vida, encontrar alguém, nos entregar um pouco, evitar a rotina, desfrutar de nossa fatia de festa". 

Pedro Juan Gutierrez, sendo magnifico na minha vida como sempre foi.

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

summertime sadness

eu gostaria de não me sentir tão ridícula agora
mas hoje
tua falta me doí tanto
o pedaço de mim
que chico cantou
te olho
e te vejo em copos de bebidas baratas
vagabundas
parece que só elas
em encorajam
a jogar tudo pro alto
e voltar pros teus braços
errantes
bêbada, não meço o tamanho 
do
tombo
nem o risco
desse
buraco
eu só quero
porque meu corpo pede
como uma droga
porque o quarto roda
porque tá foda
e eu tô perdendo a vergonha
to pedindo arrego
e to ficando loca

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

bloody sky

um arco formou-se sobre o céu
os sol não apareceu
todas as nuances da terra encontravam-se ali
misturadas às nuvens e aos caprichos dos deuses
os antigos e os novos
mas era vermelho
tudo era vermelho
sangrento
como uma batalha travada no firmamento
eu contemplei com desespero
aquele pequeno sinal
do avesso
céu vermelho
era como se fosse despejado sobre mim
todos os pecados do mundo
pesadelo
desassossego
curva de rio, ego
apego
foi
avante, valente,  sinal fechado
o fogo
o erro
o dia do juízo
o gozo
e a origem
e o medo
do medo





quinta-feira, 19 de setembro de 2013

antes da chuva

antes da chuva eu pensei
no deus que eu não venero
pensei que se
eu rezasse com afinco
ele poderia me dar o conforto que espero
poderia me dar a paz de uma vida
sem expectativa
onde eu aceitaria
as mazelas desse mundo
antes da chuva eu pensei
no cheiro de terra molhada
petrichor
que alenta o coração dos pobres
que alenta o coração dos amantes
que morrem todos os dias
de paixão febril
antes da chuva eu pensei
pensei em você
penso em você antes e depois da chuva
e todos os dias
e antes da morte
e quando o sol se põe
sempre penso
em que direção você está olhando
e o que você está vestindo
e o que você está amando
e em todas as coisas que pensamos

Estreito de Gibraltar

andanças pelo mundo errante
imergir, imergir
mergulhar, afundar, submergir
subexistir
substimar
amar, amar
mar
imergir
emergir
és meu estreito de gibraltar
separação natural
rebeldia nas águas
encontro de mundos
o mediterrâneo e o atlântico
ressurgindo atlandida
sonar dos homens
e navegantes perdidos
sou teu fundo
reino entre tesouros
pelos homens esquecidos
imerso e nada


domingo, 1 de setembro de 2013

every sky is blue, but not for me and you


moço, eu não sei se você tá bem

e de repente, surgiu um ônibus
pulsante e veloz, ele vinha
na contramão
impiedoso e feroz, ele vinha
seguia o seu curso pela via
a via sacra de todos os dias
e você tava lá, moço
eu te vi
eu te vi e não pude te parar
ninguém podia moço
...o impacto...o barulho...a fúria...
a inconscistência da vida fluída
a via muda
e os seus gritos
e os meus
e o silêncio tenebroso das vontades
e tudo aquilo que a gente deixou
de viver
deixou pra viver
depois
cessou
lenta e dolorosamente, cessou
secou
e como a via muda, emudecemos também
nos misturamos com o sangue
na guia, porta do mundo
nos vidros quebrados e nos ossos móidos
na dor de toda humanidade
e nos sofrimentos
latência, urgência, calafrio
o céu era todo azul
aquele dia, era
pra todo mundo
mas não pra mim e pra você, moço



segunda-feira, 19 de agosto de 2013

jack kerouac me ensinou

eu li umas linhas tortas
linhas do desespero
linhas da absoluta certeza dessa vida
onde nos furos e buracos
do caminho
me encontro
pulando etapas, pegando atalhos
quando a única resposta para a desolação
é o isolamento
é a solidão
é o esquecimento

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

aquelas estradas, saindo de méxico d.c.
aquelas pontes
o sol que tocava a minha pele pelo vidro
eu sabia
que não importava o quanto fosse verão naquele hemisfério
aqui era inverno
era gelado
e ele estava a me esperar
eu podia fugir
eu podia
mas respeito o destino e suas confluências
assim, deixei o pacífico
voei um milhão de milhas
pra morrer em terra firme

pacífico, estou a pensar em você.

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

maybe I like this rollercoaster, maybe it keeps me high, parte II

conclusão da tarde:
tô na contramão do fluxo
em via expressa
a 200Km por hora
prestes a bater num poste
e tô curtindo.

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

maybe I like this rollercoaster, maybe it keeps me high

sol
um dia de sol
e beleza
e música leve
e respirar aliviada
e sentir outros cheiros
o meu
e me tocar
ser tocada
e me deixar tocar
desfrutável
abrindo portas
as barreiras antes intransponíveis
...maybe I like this rollercoaster, maybe it keeps me high...
o banho que limpa
e o canto que sopra
saindo da garganta 
quase um hino de juventude
que me encanta
e me assombra
e me faz perceber
essa vivacidade
tão latente
&
(e uma voz que me diz: você é um ser sexual, você é um animal livre, você tá viva!)

haja sangue pra tanta vida.



amora

que meus pés não falhem,
estou nessa estrada há mais tempo do que me lembro
tudo é chuva
e eu não sei mais qual é o preço
de vingar um amor errado
tudo está estástico
mas no segundo seguinte
o mundo se transforma perante os meus olhos
são visões lindas
de sublimação e esquecimento
de anestesia e aprendizado
de simplesmente saber
que vai ficar tudo bem

&

a fé na mudança substancial da vida
dá sentido aos meus passos,
aos meus medos
às minhas revoltas internas e externas

sábado, 27 de julho de 2013

das músicas que eu gostaria de ter escrito, parte I

Communication

For twenty-seven years I've been trying
To believe and confide in
Different people I've found
Some of them got closer than others
Some wouldn't even bother
And then you came around
I didn't really know what to call you
You didn't know me at all
But I was happy to explain
I never really knew how to move you
So I tried to intrude through
The little holes in your vanes
And I saw you
But that's not an invitation
That's all I get
If this is communication
I disconnect
I've seen you, I know you
But I don't know how to connect
So I disconnect
You always seem to know where to find me
And I'm still here behind you
In the corner of your eye
I'll never really learn how to love you
But I know that I love you
Through the hole in the sky
Where I see you
And that's not an invitation
That's all I get
If this is communication
I disconnect
I've seen you, I know you
But I don't know how to connect
So I disconnect
Well, this is an invitation
It's not a threat
If you want communication
That's what you get
I'm talking and talking
But I don't know how to connect
And I hold a record for being patient
With your kind of hesitation
I need you, you want me
But I don't know how to connect
So I disconnect
I disconnect
 
(the cardigans, communication, long gone before daylight, 2003)
Os médicos estão fazendo a autópsia
Dos desiludidos que se mataram
Que grande coração eles possuíam
Vísceras imensas, tripas sentimentais
E um estômago cheio de poesia.
” 


Carlos Drummond de Andrade

sexta-feira, 26 de julho de 2013

a nova droga russa

na impossibilidade de embarcar naquele vagão, recuei. estava com uma cena do trainspotting na cabeça. choose life. choose a fucking big television. daí acendi um cigarro e comecei a pensar: que porra eu tô fazendo dessa vida? mike renton olhou pra mim como quem diz: "fera, tá esperando o que? os erros que a gente deixa de cometer nos assombram pela infinidade dos dias fodidos que poderiam muito bem ter sido, mas não foram".
passo os dias a ter saudade; uma saudade tão inflamada, tão ridicula em seu tamanho que parece mentira. vale a pena todo esse martírio, renton? "não fera, não vale".
na impossibilidadede embarcar naquele vagão, me joguei nos trilhos.

chave

a minha paz está intimamente ligada ao caos que rege o mundo

quinta-feira, 25 de julho de 2013

sobre a falta

"e quando tudo isso passar,  amar outro(s), ter outro (s), ver outro (s) mundo (s)... é a confluência da vida, é o start, a chuva de verão batendo nas minhas costas, é a alegria, é o êxtase!"

mas enquanto não passa
tudo tem teu cheiro
e  as pessoas na rua, todas
são você num dia de chuva invernal
e a bebida demora a assentar
num passo largo, quase nada
e as viagens são todas pro mesmo lugar
e os sonhos,
ah, os sonhos
são montagens bizarras de recorte de tempo
atemporal, temporal meu
nas minhas memórias
nas minhas vértebras quebradas
verte o teu sangue
e o relógio parado que não existe
e o mundo sem dor e sem glória
eu me risco toda e me pinto
pra ficar menos obvia
a minha cara de ressaca
eterna
como o mar no dia primeiro de janeiro


andança

a cidade ficou doída
corri pro campo
o marasmo me deixou doida
fui ao encontro do meu amado mar infinito
me afoguei nas ondas
me afeiçoei tanto a esse sofrimento
que ele simplesmente não me deixa


terça-feira, 16 de julho de 2013

when you were young

minha ultima noite com 26 anos
bebo minha cerveja e fumo um cigarro
na esperança de dias melhores
para nós
(nós, esse pronome que rege a minha vida)
a vida continua a fluir
não menos nem mais dolorosa
ela apenas passa
diante dos meus olhos
e os dias que voam
no calendário
e minha pressa
e minha urgência
simplesmente não fazem sentido
faço parte de tudo
e de nada
estou em mil lugares
nao estando
cacos e alegria
dualidade intensa
temperança
uma moça chorando a beleza da noite

sexta-feira, 12 de julho de 2013

fazem 03 anos que o Dú morreu.

passei em frente ao Cemitério da Freguesia do Ó ontem, meu caminho solitário, diário e habitual, quando vi um monte de gente reunida, se abraçando e chorando e dizendo condolências umas às outras. pensei: "há exatos 03 anos atrás eu era uma dessas pessoas". é um sentimento tão louco. foram dias de extrema tristeza, de miséria, de questionar o inquestionável. foram meses de tormento, de choro doído, de alma moída, de desconforto. são anos de saudade e de amor incuráveis, anos de amizade feliz, verdadeira, recíproca. união, força, coragem.

fazem 03 anos que eu voltei a fumar.

seguir adiante sem você foi muito difícil; eu simplesmente não sabia o que fazer. nunca perdi alguém tão próximo à mim tão novo. eu não reconhecia mais aquele mundo onde eu fazia parte, e você não. parecia tudo tão fora do lugar...tão confuso...entrei numas vibes tão erradas sem você, cara. eu soluçava de chorar a cada vez que saía com meus amigos, porque parecia que eu não merecia aquilo. eu não merecia celebrar nada. não merecia estar num mundo sem você. eu expus ridiculamente meus sentimentos mais doloridos na sarjeta. eu não sabia me localizar mais. sua morte me fez pensar na minha própria irrelevância e mortalidade, na minha própria fragilidade. eu te bebi em mil garrafas de vodca barata, eu envergonhei meus amigos, eu exorcizei demônios que eu nem sabia possuir.
e todo aquele clichê de tempo (vai passar, vai amenizar, ele está melhor......) parecia apenas baboseira ridícula de quem nunca enfrentou o luto de peito aberto.

mas não era.

o tempo realmente cura feridas, veja você. demorei muito pra cair na real,viu?  demorei e quebrei a cara algumas vezes. eu precisava entender aquilo. entender aquilo de uma forma maior, e não mesquinha e egoísta  do jeito que eu estava fazendo. você sempre foi aprendizado pra mim, né eduardo? me ensinou em vida e me ensinou em morte. aquilo que eu tava vivendo não era digno da sua perda. foi um processo que eu tive que passar pra ressignificar minha própria existência, a minha própria vitimização. era (é) real, e era (é) dolorido. era a vida, a vida é assim.
demorei bastante tempo pra encontrar o equilibrio entre saudade e tormenta, entre vida e morte, entre eu e você. e nossa ligação. e tudo o que foi deixado disso. foram tantas coisas boas, cara. tem um grupo muito seleto de pessoas que se uniram depois que você se foi só pra recordar a sua importância nesse mundo. fomos visitar a sua mãe há menos de um mês atrás para falar sobre as burocracias de seus restos mortais,e olha...foi tão lindo. eu não cansava de olhar pro seu irmão que tem o mesmo modo de falar com as mãos que você tinha. eu te revivi ali, falamos tanta coisa boa, lembramos de nós mesmos e contamos as mesmas histórias que contamos toda vez que nos reunimos. sua mãe me pareceu bem, viu? serana, levando a dor dela com muita dignidade.fiquei muito feliz com aquele encontro.

sua morte precoce sempre será emblemática pra mim. tá na minhas veias. vou ter que viver com isso, e tenho vivido, meu grande amigo. vivo hoje com tudo o que construímos juntos. e consigo dar muito mais importancia pra tudo que nós fomos, pra tudo o que nós somos e pra tudo que nós sempre seremos do que pra aquele dia que perdemos você.
é tão bom quando a amargura dá lugar a saudade, no sentido pleno da palavra!
quando toda a loucura dá lugar a sanidade serena e verdadeira.
amor incondicional. a matriz de uma vida significativa.
já te disse obrigada um milhão de vezes em meus pensamentos.
sei que você vela por mim, eu apenas SEI disso.
não importa.
sempre me lembrarei de você como o melhor amigo que alguém pode ter.
como não me considerar um pessoa sortuda?
você me abençoa todos os dias.
sua existencia será celebrada por mim enquanto eu aqui estiver. com meus rituais de passagem.
você me ensina o que é o amor.
o amor é sangue.
e eu te amo.
(pra sempre!)



sábado, 6 de julho de 2013

voltagem

"pelos caminhos que ando
um dia vai ser
só não sei quando"
Leminski

percorri
rosário
buenos aires
cuzco
ollantaytambo
pizac
aguas calientes
machu picchu
rodei os andes
belo horizonte
vitória
bogotá
cidade do méxico
acapulco
guarulhos
osasco
são paulo

não estando você lá, te encontrei por todos os lados

terça-feira, 2 de julho de 2013

meu jeito

só mais uma coisa

vou desistir de tudo
pra ser eu mesma de novo
pra ser livre de novo

só mais uma luta
e eu serei história
e essa será a melodia

futuros amantes

eu já decidi
que vou seguir a minha vida
deixando pra trás
tudo aquilo que eu não puder carregar
só tenho dois braços
50 e poucos quilos
um coração capenga
e 20 tatuagens
simbólicas
eu não aguento o peso do mundo
que me arrebenta as costas
que me sangra até a morte
eu não aguento
talvez seja a hora
de abrir essas janelas
de arrumar a casa
de amar o infinito, a madrugada
que por mim clama
eu te espero
mesmo correndo
eu te espero
porque você me chama
e eu
surda de amor,
ouço





detalhes

o fato
dele saber
que a minha coca-cola
é sempre
sempre
sem gelo e sem limão
me faz chorar de desespero
no meio da rua

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Baltimore

saí por aí um dia vagando
pela cidade
procurando por tuas partes amputadas
como Isís procurou por Osíris nas margens do Nilo
pra te juntar em um altar divino
e fazer reviver todo aquele amor errado
(meu deus, como a gente amava errado!)
mas era aquilo que nos dava sustância pra vida,
era o alimento
parafraseando o deus todo poderoso do universo
tua falta se faz física
quântica
como uma ferida
que nunca se fecha
que não se cura
que me expulsa do meu corpo
esperando o dia
de partir para todo o sempre.

sábado, 29 de junho de 2013

Práxis

eu fiz um soneto de amor
mas na verdade eu só queria transar
inventei palavras bonitas e menti
pelo simples fato de não conseguir te levar
de primeira
na conversa
fiada
pra cama
minha
eu queria, você queria
te querer ardia
taquicardia
estava aqui, presente
quente
pronta
doente
explodi em cores
em verde bandeira
pintei o muro da minha casa
te dediquei a minha noite inteira
bebi meus medos, venci a introspecção
botei meu vestido mais bonito
pra te ganhar
era um envolvimento
pernicioso
complicado
errado
e proibido
eu era a malícia
a malícia pura da vida
dessa vida
e da outra
de início, fim e meio
do tempero
da madrugada
e do cheiro
da tua pele.




sexta-feira, 28 de junho de 2013

Esse texto é para Deborah Lindau Pepe. A minha Pepe


[19:05:04] aline moreira do amaral says para deborah lindau pepe:

[é foda quando o amor não tem pra onde escoar né?
a gente só faz esperar
esperar que passe
esperar que as coisas mudem
esperar os bons ventos da melhora
e nada]

meu amor,
eu não consigo imaginar a vida sem você
sem essas conversas

tudo isso teria sido uma catástrofe de proporções inimagináveis se você não estivesse a habitar a minha vida, a minha casa, os meus espaços, o meu skype (!), os meus sonhos. às vezes lembro das nossas conversas non senses enquanto volto pra casa e rio sozinha por horas. você me faz mais leve. e tira alguns pesos das minhas costas, aliviando a dor de uma vida em transição.
a gente briga, e a gente treta, e a gente se xinga.
só faço isso com quem eu amo e respeito. e admiro.
sei que sua vida também não tá fácil.
tamo tudo perdida, desiludida, sem paciência.
 mas você sabe melhor do que ninguém o quanto eu tô aqui pra você, pra lutar, pra chorar, pra celebrar.
e você tem que se dar uma chance.
eu também tenho.
pode não ser amanhã. mas será algum dia
amanhã vai ser outro dia!
porque você é tão contagiante, tão cheia de energia e força vital...
isso vai passar.
você sabe
eu sei.
mas enquanto a tempestade estiver caindo
nós vamos dançar na chuva
nós  vamos entrar nessa onda
porque é isso que a gente faz de melhor


quem tem amigo tem tudo.
então, mandar ver
e tudo o que tiver que ser nessa vida, meu amor, vai ser.




é nóis.

te amo.

 ali





sábado, 22 de junho de 2013

Ana Bolena

"Do you think a crown gives you power?"

um casamento destruído. uma nação desgraçada. você veio feito uma estrangeira, adentrando terras que não eram suas. uma bruxa, uma feiticeira. envenenou o pobre rei, angustiado, depressivo e infantil, alimentando seu ódio contra Leão e Castela. encarcerou a devota e querida rainha a um mar de suplícios sem fim. teus caprichos custaram a vida de milhares de servos, que temerosos, avisaram o pobre rei de suas artimanhas ardilosas. de nada adiantou. você virou a cabeça daquele insano homem feito de carne, osso, sangue e porra; você o fez romper com a Sua Santidade, o Papa de Roma. a ruína, sua, era só uma questão de tempo. aquele homem só te quis porque não te podia ter. você não percebeu isso? a partir do momento que você colocou aquela coroa você deixou de ser a estrangeira exótica e fantasiosa, estrangeira das palavras e inspirações sexuais: você virou a mulher do rei. não se lembra do que aconteceu à última?
você salgou a terra; queimou as pontes; isolou o reino; tirou o sono; decapitou princesas; você era a própria peste e tudo recaiu sobre as suas costas, magras e cansadas. você não segurou nada. como poderia? sempre coloquei a culpa de nossa desgraça em você. a casa caiu. o rei não tinha mais como te justificar. mandou te cortar a cabeça. e tudo isso pra que? por que? pra quem?
o rei, com sua coroa idiota, se safou ileso e foi aclamado pelo povo. coitado. viu sua cabeça rolar e soltou um risinho frouxo de desprezo, de canto de boca. o rei. orei.
eu entendi. você era um demônio muito particular, daqueles que vem ao mundo dos homens para destruir. sua ascensão foi meteórica. sua queda, um espetáculo publico, cheio de rancor e juras de maldição. 
e no final das contas, seu castigo foi muito maior do que a morte: passarás a eternidade toda sendo a outra.
Vem,
Te direi em segredo
Aonde leva esta dança.

Vê como as partículas do ar
E os grãos de areia do deserto
Giram desnorteados.

Cada átomo
Feliz ou miserável,
Gira apaixonado
Em torno do sol.


Rumi

sexta-feira, 14 de junho de 2013

a mala

Eu pus tudo o que sobrou de mim naquela mala
devia ter uns quilos nela
eu me esquartejei toda
dilacerada entre
papéis
e
fotos
e memórias
e
tudo
preenchi cada pedacinho dela
com os meus
todo o esforço de uma vida ali
todas as reminiscências
couberam
e enquanto eu ia colocando
o que fomos nós
o que construímos
eu voltava um pouco no tempo
nostálgica, a mala gritava comigo
furiosa
o que doí é o fim, essa angústia
todas as coisas sagradas
que não me pertenciam mais
eu a fechei, eu a lacrei;
eu a empurrei escada abaixo
não queria mais ouvir as magóas
daquilo que poderia ter sido
mas não foi

usuário na via

você era o trem
eu era a moça acorrentada à via
e você passou, assim
impiedoso
furioso e acelerado
eu corria as estações
pedindo por misericórdia
indefesa e infeliz
ninguém veio ao meu encontro
ninguém veio me salvar
ninguém ouviu aqueles gritos de socorro
ninguém podia
era o meu maior medo, esse
de ficar estirada na via dos desesperados
impedindo a viagem dos outros
morrendo aos poucos, aos pedaços
angustiada,
olhando a vida passar pelos trilhos

terça-feira, 4 de junho de 2013

1456 dias

durante
1456 dias, mais ou menos
eu fui tua
tua mulher
tua companheira
tua amiga
tua parceira
enquanto tu foste para mim o universo todo
desconhecido, infinito, temido
eu via as nebulosas em ti
achava lindo
um corpo celeste caindo
um cometa na velocidade da luz
devastando
1456 dias, mais ou menos
e agora as pessoas me dizem para eu seguir minha vida
e viver a vida
e me permitir
só gostaria de descobrir
o que elas sabem afinal
sobre supernovas e explosões gasosas,
sobre tempestades solares
&
sobre a distancia entre o sol e a terra
os anéis de saturno
que brilham para mim todos os dias
sem um pingo de vergonha
e a chuva de meteoros
que dança na galáxia
como se não houvesse amanhã
e eu era a lua
e me alimentava da luz dos outros
da tua
as oito luas de Júpiter
1456 dias, mais ou menos
de incerteza e de tempos de guerra
me vesti de estrelas
tua noiva, tua mulher
1456 dias de um amor incomum
estou há anos luz de mim mesma

segunda-feira, 3 de junho de 2013

"winter is coming"

adentrei a noite
resisti bravamente aos encantos do sono
lamentavelmente recusando
adormecer
parece que eu nunca vou saber
o que de fato nos une
o outro
me espreita pela janela
e sabe dos meus passos
e dos meu deslizes
sabe o quanto você me acalenta
com as suas palavras
e o quanto isso é notoriamente errado
ouvindo os sons da minha respiração marcada
suspirosa,
eu conto as horas, todas
esperando os bons ventos da melhora
porque o inverno há de chegar
e quando ele chegar
quero estar inteira
e recebe-lo de braços abertos
e coração leve
estaremos juntos
eu & ele - frio e impetuoso
o destino dos homens têm dessas coisas

segunda-feira, 27 de maio de 2013

dádiva do nilo

foi ali
no coração da avenida paulista
que eu vi
meu sangue se esvair do corpo
feito água
a dádiva do nilo
que me foi dada
era um dia tão lindo, de chuva clara e cristalina
de tons carvão, cinza flamejante
as antenas de rádio interferiam em minhas estações
internas
enormes
era o transtorno
era o transito
era um misto de contentamento e desespero, em seu estado mais puro
era uma alegria bipolar, esquecida
eu estava vagando por entre os carros
eu estava em todos eles
em pedaços
eu sabia que tinha que continuar
eu não sabia como
mas aquilo, ali,
me era predestinado
eu olhei pela janela do ônibus
que em fúria, corria apressado
expurgando todo o pus desses versos
meus
me deixando ser
aquilo que eu nasci pra ser

eu cheguei no topo daquela rua que não ouso dizer o nome e tive certeza:
pra viver essa vida é preciso ter coragem


sexta-feira, 24 de maio de 2013

nós,os outros


felizes aqueles que são amados
amáveis
doces
fáceis
porque nós, os outros
vivemos de sobras
de cinza de cigarros
vivemos das tragadas intragáveis dessa vida
vivemos brindando a dor de qualquer um
que nos alimenta
somos duros, feito o diabo
opacos
nós, os outros
um gole, uma conversa barata
qualquer coisa nos basta
somos poucos, pequenos
não cabemos
vivemos à espreita, na surdina
na sarjeta
na miséria
nossa
&
dos outros


e se não houver um inferno? e se não nos quiserem lá?

quinta-feira, 23 de maio de 2013

dilacerada na selva de pedra



hoje eu tive a exata sensação do meu tamanho. pequena, andei pelas ruas sob a garoa fina com uma bigorna ancorada ao peito. a realidade cinza e fria da cidade se fundiu a mim, caminhei passos errantes, sem saber aonde estava indo. um desconforto tão leal, traguei a fumaça do meu cigarro na esperança de encontrar qualquer purificação. um desconforto que só cabe em meu peito, duro, urbano. o frio que corta e espalha algumas lágrimas perdidas, que insistem em vazar pelo meus olhos. senti que todos os prédios riam de mim, desse tamanho indefinido. todas as cicatrizes expostas, mesmo com todas as camadas de roupas e anseios que me cobrem. nua, minhas pernas sabem bem o peso dessa caminhada.
uma. bigorna. ancorada. ao. peito.

São Paulo, tu és a cidade dos meus pesadelos, mas também é contigo que tenho os sonhos mais bonitos.

Interlúdio ou Matan, parte II

eu desenhei uma estrela de davi na testa
eu te desejei
eu peguei um barco na margem do rio jordão
a vida é um rio de muitas curvas
a minha estiagem
a minha seca
não impede a fluidez dos caminhos passíveis
possíveis
e como as veias de um coração aberto
navegamos
por terras ocupadas, invadidas
somos reféns
somos estrangeiros em nosso próprio solo
eu tatuei uma estrela de davi no peito
para dizer ao mundo que tu mudaste o meu destino
num momento onde nada mais podia dar certo
tu vieste
quando eu chamei por ti em meus sonhos ridículos
agora eu só faço agradecer
e rezar para que tu não morra
em alguma guerra estúpida
e  para que possa tu, ainda
mudar o destino de outras moças
sedentas por vida e por beleza
essa beleza ímpar
que é só tua, you damn jew.



segunda-feira, 20 de maio de 2013

FotoFobia

essa urgência em estar viva
essa pressa
que me faz atropelar muros e subverter tudo
me faz criar contos e viver das ilusões
de sonhos vazios, de sanidade incompleta
essa urgência
grita dentro de mim
me faz acordar suada nos domingos
pra escrever os capítulos de uma história
que não será lida
que não será contada
e que não tem protagonista
tento desesperadamente
quebrar esses vícios antigos
e esses hábitos tão nefastos
mas o meu medo
é não sobrar nada
não restar nada
do que fomos nós

daí danço nessa valsa de águas vivas
e despretensiomente balanço os meus cabelos
e me envolvo na música
que dá sentido aos meus passos
me sinto minúscula
penso na via-lactea
penso em como essa urgência
me acolhe
me faz ver outras janelas
contemplar
que nela, não há espaço para
lamentações
apenas

domingo, 19 de maio de 2013

a música libertadora do ano!

é uma da manhã e eu tô pulando no meu quarto e cantando:

I DON'T CARE! I LOVE IT!




fresh new year, baby!

quinta-feira, 16 de maio de 2013

tábua rasa

tem um abismo ali na frente
e eu posso fingir que ele não tá lá
e eu posso negar a sua existência
solenemente
ele vai continuar lá
me olhando, me encarando
perguntando quando é que eu vou pular
perguntando quando é que eu vou largar de ser medrosa
e me jogar nessa maré de possibilidades infinitas
ele é escuro, como todos os abismos são
tenho medo dele porque tenho medo do que é novo
sempre
abrigo em mim todos os medos desse mundo
criando muros e barreiras 
que me impedem de gozar a sensação
da queda livre
da aceitação daquilo que não pode ser mudado
e da incorporação da vida que pulsa
escondida nos abismos
que preferimos ignorar

era uma vez na cidade do méxico

eu vi fuligem. fuligem daquela que pega, que gruda, que mancha. eu andei por milhares de caminhos aztecas, eu acenei e venerei aqueles deuses, um por um. o que eu mais gostei foi Tlaloc, deus da chuva. ele me abençoou com uma tempestade pesada, que lavou a fuligem e meu deu uma alma nova. depois veio Quetzalcoatl, deus do vento e senhor da luz, tornando nossos sofrimentos ainda mais insuportáveis. eu andava pelo centro de Tenochtitlan, admirada, na companhia da serpente emplumada, como numa comitiva real. eu, a mais perdida entre as perdidas, desfrutável, quase uma messalina, fui coberta de jóias e sangue dos prisioneiros de guerra. as paredes caíam sobre nossas cabeças, em chamas. dancei sob os tambores do governador do oeste, descalça e nua. Tenochtitlan vibrou em cores, oferendas e amores. trouxeram um puma até mim e eu o beijei com ardor. me convidaram a partir para Teotihuacan, e eu fui, seduzida pelas histórias de belos guerreiros sedentos que haviam por lá. Teotihuacan se incendiu com a minha chegada, e os sacrificios continuaram, com cabeças rolando da pirâmide da lua. todos aplaudiram. Quetzalcoatl me disse então que aquela era uma cerimônia de adoração à uma estrela dos antigos. Tlaloc apareceu e me pediu em casamento. Xochiquetzal, sua mulher, se sentiu ofendida e exigiu meu sacrificio e minha viagem até o inferno, seu dominio. eu aceitei o pedido, porque não é qualquer deusa que podia me desafiar daquela maneira, eu era uma aspirante convidada pelo senhor da noite e seus servos. eu desafiei a deusa da morte e fui contemplada com raios e trovões de toda a sorte. eu morri para tornar aquela cerimônia divina e meu sangue correu a cidade por dias, alimentando aqueles que ali chegavam para ouvir a história.

acordei encharcada na cidade do méxico, suei frio e me levantei para fumar um cigarro, olhando as ruínas do templo maior



quarta-feira, 15 de maio de 2013

eu gostaria de estar em seattle agora
tomando um drink e olhando a chuva
adoro olhar a chuva pela janela
me disseram que lá chove todo dia
eu sinto falta dela,
da chuva
o tempo todo
acho que sou mais feliz quando chove

segunda-feira, 13 de maio de 2013

who will survive and what will be left of them?

quem diria
que entre mortos e feridos
salvariam-se todos
se alguém me perguntasse
eu diria que eu não
que eu ia morrer de morte morrida
que eu preferia assim
do que simplesmente vagar por aí, pelos nossos lugares
sozinha
por todas as igrejas que entramos
percorrendo noites na chuva
para rezar com devoção para aqueles santos
que você sabe que eu adoro
sobrevivendo
ao seu gosto na minha boca
misturado à alcatrão e vodca barata
saboreando esses momentos de penúria
sabendo que mais dia menos dias
eles iriam acabar
esquecer é silêncio, eu já disse isso
então às vezes, quando me pego calada
me pergunto:
e se tivéssemos feito diferente? e se eu tivesse feito diferente?
mas saiba você, meu amor de novembro
que eu não poderia nunca ter feito diferente
e essa é a nossa natureza
e por isso estamos aqui
eu posso afirmar que o sangue tá pulsando nas minhas veias
vermelho e espesso
viva, lúcida, palpável.
só não posso dizer a você o que foi deixado de mim
porque isso por si só
já é assunto
pra outra história







Hypólita

queria que aquelas águas fossem azuis, mas eram negras
águas da noite
e como eu sofri então

sábado, 11 de maio de 2013

Nigella, essa MUSA!

Nigella Lawson, para você, qual a relação entre amor e comida?

"Para mim, amor e comida são entrelaçados. Quando você alimenta alguém, de certa forma, o que você está fazendo é mantendo aquela pessoa viva. É uma relação muito intensa, tem a ver com sobrevivência e existência. De alguma forma, você está dizendo para a pessoa “eu te amo e eu preciso que você esteja nesse mundo”.

♥♥♥

sexta-feira, 10 de maio de 2013

A metáfora e o Rim

Eu tenho esses dois rins aqui
mas é pelo esquerdo que escrevo hoje
sempre que minha vida passa por uma turbulência, não é somente o meu coração que adoece
quem paga o pato é sempre esse coitado
de contornos formais e regulares,
sempre ele
que me avisa que a tempestade devastou mesmo
por dentro
ele recebe todas as magoas,
ele segura todos os meus baques
ele absorve todas essas emoções, esse danado
enquanto meu coração tira uma folga
ele retorce e doí e expele o mal
é uma dor tão insuportável
que não me deixa pensar em nenhuma outra
é só ele, eu e ele
e temos que nos virar pra passar por isso de novo
uma pedrinha me pôs de cama ontem
ele gritou
e me fez chorar, chorar, chorar
ficar sozinha
me contorcer
e relembrar
que eu tenho um maquinário inteiro aqui pra cuidar
cuidar de mim
desse rim
me amar, nos amar

precisamos cuidar um do outro.


quarta-feira, 8 de maio de 2013

2008

E assim estamos indo,
sangue, dor, ferida e cicatriz
a vida se traduz em erros de cálculo e surpresas tangíveis.
somos todos passiveis a mudanças
ou
estou atropelando meus sonhos e sendo apenas estúpida?

terça-feira, 7 de maio de 2013

Laila

"De todas as dificuldades que uma pessoa tem de enfrentar, a mais sofrida é, sem dúvida, o simples ato de esperar."
Khaled Hosseini - A Cidade do Sol


saudade, essa palavra maldita
que
só existe em português
nós, que sofremos nessa língua
sentindo todo o peso de uma palavra
que
inventamos
que nos serve para chorar
a perda de nossas extensões
festejando uma noite na penumbra
olhando pro telefone
querendo discar
pra qualquer número que nos ouça
especialmente aquele
indisponível
saudade, palavra essa
que
nos faz perder a sanidade
e com a força de um cavalo em fuga
nos arranca
da comodidade brilhosa dos dias
nos faz sentir
desconfortáveis em nós mesmos
e definitivamente
a sensação de não caber em nossos próprios corpos
é um lastro que só a lingua pode causar.

sexta-feira, 3 de maio de 2013

quinta-feira, 2 de maio de 2013

é segredo que desejo teus braços
em silêncio
segredo que as partes do teu corpo me tomam
de assalto
segredo que vejo tua língua enrolar para dizer-me as palavras erradas
e gozo
vejo todas essas partes defeituosas em ti
cada pedacinho
coberto de minha saliva pura
&
escassa
saliva
eu comia com sofreguidão
me arrastando, imensa e profunda
largo, nada
tens olhos tão bonitos
gostaria de poder nadas neles.

sábado, 27 de abril de 2013

acabei de preparar um gnocci a pizzaiolo. massa e molho caseiros, feitos por mim.


agora vamos sentar no meio-fio e chorar?

tempo, eres más fuerte!

sexta-feira, 26 de abril de 2013

quinta-feira, 25 de abril de 2013

das amenidades da vida, parte II


 "Well, my conclusion is:
 Hate is baggage
Life's too short to be pissed off all the time. 
It's just not worth it."



bom, minha conclusão é: 
quando você tá triste, até o sensual edward norton de nazista te ensina algo.

terça-feira, 23 de abril de 2013

uma carta para frida kahlo


frida,



às vezes eu me sinto a mulher nesse quadro, friducha. me sinto você, quando diego, com toda a sua gordura e maluquice fez com que você chorasse, chorasse sangue e sofresse feito uma maldita.
o destino tem dessas coisas né? eu fui até a tua casa, aquela casa azul maravilhosa, fui celebrar a vida, as cores e a nossa ligação de outro mundo. foi provavelmente quando eu tava lá, contemplando tua cama e teu espelho de pintar que a casa caiu. a casa caiu friducha, e hoje, somos mulheres que reconhecem na dor o ponto de mudança e reviravolta de tudo o que vivemos.
tú me dá força, porque apesar de toda a adversidade o que eu vejo em suas obras, pequenas e intimistas, é a temperança. é a temperança que rege o mundo dos homens que erram. erram e nossos fazem tosar nossos cabelos, beber feito vaqueiros e blasfemar a vida. tua casa é tão linda, frida. tua casa é minha casa.
você sabe que isso é sobre perdoar né, frida? nos perdoar e perdoar o outro, ter essa coragem de seguir em frente. mas como eu li há pouco: there ain't no point in moving on til you got somewhere to go.
não perdoar é adoecer, e nós sabemos disso. não perdoar é não ter (a) onde ir.
me sinto tão pirada.
me sinto tão lúcida.
queria desligar esse piloto automático e cair no mar.
a salmoura me cura.
queria voltar e cultuar o senõr del veneno, na cidade onde meu coração se espatifou.
eu senti, frida. senti, assim como você sentiu quando (momentanêamente) perdeu seu panzon.
a gente sente. mulheres cancerianas e a dor de carregar o mundo. de gerar o mundo. de apaziguar o mundo.
esse seu quadro é tão emblemático pra mim.  tenho "unos cuantos piquetitos" impresso na minha mesa há anos, e sempre senti empatia pela mulher morta, nua e sem um par de sapato. nunca soube exatamente porquê, sempre pensei que fosse cancêr mais uma vez regendo a minha singela vocação de sofrer. mas não. essa mulher é você e sou eu também, e somos todas. todas.


porém (sempre haverá um porém, friducha) eu também me sinto você em "arbol de la esperanza"



"árvore da esperança, mantém-te firme"
se eu já não tivesse uma frase tua marcada nas minhas costas, eu escreveria essa.
você tem uma postura tão bonita, tão digna. serena, clara, viva.
"chora na tua cama que é lugar quente".
não importa o quão partida e dilacerada. tú botou o vestido mais vermelho de todo México e foi ser.

essa frase é sobre não ser covarde na vida.
deve ser por isso que eu te amo tanto, frida. mulheres corajosas, como as que tenho na minha familia, me inspiram a viver.
estou numa contra mão danada. porque às vezes eu só queria sentar no meio-fio e chorar um pouco pra lavar essa alma encardida.
às vezes não sinto força nos pés pra trilhar esse caminho.

mas a força tá aqui. em algum lugar.
assim como as suas cores que aquecem o inverno nesse círculo polar que a minha vida se tornou
suas cores me movem em apenas um sentido agora
único
unidade
ser
perdão


 obrigada, Magdalena Carmen Frieda Kahlo y Calderón
 minha  friducha,

da tua,
ali.


(olhos de sereia)

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Conforto

esse sofrimento
que também é transformação
deve ter acontecido pra dar uma sacodida na poeira da minha vida
que tava assim, mei sem eira nem beira
daí eu ouço chico buarque, esse muso
dizendo que amanhã vai ser outro dia
e pá
vai mesmo
dizendo também pra eu não me afobar, não, que nada é pra já
e todos esses emails que me chegam
e pasmem
nenhum é teu
e bagunça permanente de uma vida mutável
shiva
chuva
tú transformas, e me transtorna e me põe a pensar
arrumei o quarto, joguei tantas coisas fora
li uns mantras, acendi uma vela
pedi pela minha sanidade, me vi em águas, passadas:
esse grande moinho vai continuar girando
que pequenos nós somos,

grandes apenas em nossas mediocres confusões diárias
não tem importância mas é tudo tão  urgente

vejam bem:
não é

vida ciclíca.
um café, um cigarro e uma conversa fraca: tá aí a minha resposta, lenta e cálida, pra qualquer desses impasses insóluveis.




sexta-feira, 19 de abril de 2013

das amenidades da vida, parte I

quando você sofre por um pastel de feira
é que o bagulho é muito mais embaixo.




(que vidinha piegas, minha nossa senhora da aparecida do norte)

quinta-feira, 18 de abril de 2013

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Golfo Pérsico e o tempo

assim, amanheceu outro dia. estou atrasada.
amanheceu mais um dia e os dias vão continuar amanhecendo, não importa o quão insuportáveis e insustentáveis sejam as nossas dores
este blog não era sobre mim
sobre esta aline que vos fala
quebrada, meio louca, sem direção pra vida nesse momento.
era sobre pseudo-poesia, pseudo qualquer coisa. era bem mais sobre você, sobre a minha percepção do mundo ao amar alguém. sobre o lirismo dos meus pensamentos quando eu estava conectada a algo maior, muito maior que eu.
era sobre amar.
-aline, sua ridícula, eu penso.

acendi mais um cigarro, usei mais uma vez essa jaqueta de couro.
minha casa tá uma zona, tá tudo errado, tá tudo fora do lugar. a vida.
me sinto tão exposta, tão nua. nem minhas tatuagens podem esconder o que eu sou.
nada me cobre. 
eu sorrio. porque eu sei sorrir, sempre soube. E o desespero me causa tanta repulsa que sou capaz de qualquer coisa pra me manter sã. SÃ, observe só essa palavra. Eu, tão mulher de mim, me vi sozinha, perdida e parcialmente acabada. é a reviravolta da vida, crua, é nadar com os tubarões. Se joga, se vira, dá seus pulo, você tem que levantar da cama e levantar essa porra de cabeça. não é assim a música-mantra da sua vida? "Erga essa cabeça, mete o pé e vai na fé"?
tenho ouvido toquinho e vinícius o dia todo. se fosse um disco, era capaz de riscar. porque olha, sei ser bem obssessiva às vezes.e sabe no que eu sou mais obessessiva nessa vida?
em sobreviver.

"é que os momentos felizes tinham deixado raízes no seu penar"

é mais do que falta o que eu sinto em mim. é mais do que poder ou não poder sofrer, é mais do que segurar essa onda, é mais do que o ódio em seu estado mais puro. é mais. é tão sem tamanho, é sem nome, é ser orfã de mim mesma.

esse blog não era sobre mim.

esse blog agora é sobre o tempo.
o tempo de renascer, o tempo de ser fénix, o tempo de ser miserável, o tempo da tormenta, o tempo de ouvir o seu maldito nome e não morrer. de novo. de desgosto, de coléra, de tétano, de úlcera, de morte morrida.
porque não é mais sobre morrer isso aqui.
é sobre como viver meus dias comigo.
eu de novo

meu golfo pérsico,
eu sou amor também


esse blog sempre foi sobre mim.





terça-feira, 16 de abril de 2013

redial

todos os dias, todas as horas... eu observo a vida passar desesperadamente, correndo contra o tempo infinito.Abre essa porta, deixa o sol mergulhar de novo naquilo que chamamos de vida. O tempo terá acabado e eu estarei perdendo com glamour. Então porque apostar? Porque você acha que eu sou como eles, mas eu não sou. Deixa eu te contar a primeira parte dessa história. Quando você estiver caminhando de volta para casa sob a chuva que tanto gosta, as gotas em seus ombros pesaram uma tonelada. Eu quis estar errada sobre todos,todos,  menos sobre você, só pra minha consciência não me consumir. Você não compreende não é? Parece que não nos magoamos o suficiente. Quantas vezes ficamos juntos fugindo da tempestade lá fora, cujos ventos gelados poderiam nos levar a lugares mais ensolarados? Você realmente não compreende.... As ironias estão em nosso destino de guerra. A força das palavras nos faz cair abrupamente, perdendo nossos laços e vinculos. todos os dias, todas as horas... mais uma promessa foi quebrada. você não sentiu a minha falta porque sabia que eu sempre estaria lá, não é? O amor acaba. Eu amo a cicatriz, não a ferida.

segunda-feira, 15 de abril de 2013

esse texto é pro meu tio, claudio moreira pinto

hoje (e talvez só por hoje) eu não consigo ter fé. eu não consigo enxergar o que é o amor. não consigo entrar em sintonia com o mundo. eu não consigo crer nas pessoas.
é lógico, é obvio, é claro como a água que uma desilução amorosa de proporções continentais faz isso com a gente. eu sei.
é muito estranho, e além de tudo é muito, muito difícil transpirar ódio. destilar veneno. ficar amarga. ficar doente.


porém...
é nesse exato momento da minha vida, onde tudo está desmorando, onde eu quero vomitar meu café e comprar uma arma, que eu me sinto mais amada. porque eu tenho uma pessoa chamada claudio moreira pinto.
esse é meu tio, o mais errado, o mais torto, o mais problemático da minha familia.
eu não consigo pensar em alguém que eu ame mais nessa vida.
daquele tipo de amor incondicional, de matar e morrer.
de largar tudo, porque só ele faz sentido.
de transbordar, de sanar todas as feridas abertas, vermelhas
meu coro tá saindo
meu estomago tá embrulhado
eu tô meio morta, pra ser sincera
e ele me chega em casa, me encontra prostrada e CANTA pra mim:


"Tantas você fez que ela cansou
Porque você, rapaz
Abusou da regra três
Onde menos vale mais
Da primeira vez ela chorou
Mas resolveu ficar
É que os momentos felizes
Tinham deixado raízes no seu penar
Depois perdeu a esperança
Porque o perdão também cansa de perdoar
Tem sempre o dia em que a casa cai
Pois vai curtir seu deserto, vai.
Mas deixe a lâmpada acesa
Se algum dia a tristeza quiser entrar
E uma bebida por perto
Porque você pode estar certo que vai chorar"

obrigada por me amar tanto. obrigada por me dar chão, me dar base.
é uma gratidão que não tem limite.
você me tem pra sempre.


terça-feira, 9 de abril de 2013

crescente fértil

amo porque dói
pelo mesmo motivo que brigo com a minha mãe
pelo mesmo motivo que risco meu corpo com tinta e sangro,
espalhando tatuagens dentro da alma
pelo mesmo motivo que ouço música alta que grita e dilacera,
com tanta intencionalidade e certeza, com tanta convicção
que a fluidez se torna o único caminho possível
pelo mesmo motivo que as bolsas de sangue se esvaziam e eu olho,
apaixonada, sã e sem nenhum tipo de lentes
pelo mesmo motivo que lambo os dedos e me delicio com o que há de mais prazeroso e errado
pelo mesmo motivo que a terminologia e a simbologia das palavras me tomam e me dizem
"vai lá, tenta de novo",
pelo mesmo motivo que todos os mares desaguam em mim, fundo
pelo mesmo motivo que te leio nas entrelinhas e sei da sua predileção pelo inverno
fosse de outro modo
eu estaria condenada a viver
uma vida de acasos
e nada mais

terça-feira, 2 de abril de 2013

Pacífico

então foi que eu
entendi o que era mar aberto
é assim, como teu peito,
revolto, sem amarras,
sem defesa, sem filtro
ele é
apenas sendo
e te avisam para não nadar nele
e te avisam que suas correntezas te arrastarão
e te avisam sobre a sua profundidade sombria e silenciosa
e te avisam que o risco é seu
mas não há
nem como pensar em resistir
e banhar-se em suas águas
é apenas o sentido da vida toda
é tudo que você esperou
ouvi suas ondas no quebra-mar
entrei em ti
e soube do meu lugar no mundo

tenho aqui todas as cores de que preciso,
e esse sol que aquece a América
uma língua que se enrola e não é a
minha pátria, pária:
ainda sim penso em todos os dias chuvosos que perdi ao teu lado

segunda-feira, 4 de março de 2013

Mar Cáspio

todas as coisas que você me disse eram verdades -  partiremos desse ponto e buscaremos juntos tudo o que me tornei,
eu velejei pela primeira vez em suas ondas anos atrás, quando a beleza dos dias era o que contava e
quando todas as confusões de nossas vidas pequenas eram nuvens, suaves e sem contorno. bruma, eu rodava pelos lados, esperando, esperando e esperando. era a vida que era assim, e não eu. porque eu não era naquela época, eu fui sendo depois, construindo meu castelo de pedras dia após dias depois que a tormenta passou. mas não era uma história linear, eu vivia de contos, de apego, de passados que nunca existiram, eu vivia com as sirenas e clamava pela luz do dia no mediterrâneo. eu saí sozinha, viajando pelo mundo apoético e apocalíptico, vazio, bonito, eu queria ver as estatuas, eu queria serviar àqueles deuses todos, aquelas cores todas.
{você}E eu nunca soube o que era marola e o que era tsunami. eu estava sempre no meio-fio, meio-termo, mar virado, ventania insana sobre a minha cabeça que descia em espiral por coisa qualquer. vou pelo mais mediocre dos suspiros,  pela respiração ofegante dos que estão prestes a desestar.
deserto de mim mesma para poder me jogar em você, com adoração e desespero.



eu não queria acordar, eu nunca quis, você não percebe?



terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

you're the storm (that I believe in)

então eu vi a tua tatuagem e era como se meu corpo inteiro estivesse quebrado. eu nunca pertenci a mim, eu sempre fui desfrutável a ponto de me perder a cada esquina, a cada névoa, em cada pedaço teu que eu vi desnudo. tu me teve no momento em que disse todas as palavras certas no tempo errado. tu me teve quando eu bati as pestanas e queimei meus olhos venerando o sol. eu queria que tu fosse possível, então eu rezei. eu, sem fé em nada que não me transponha ao mais verde dos mares. sou a sina dos navegantes, o farol que deixou de acender para que os homens se perdessem. as sereias, onde será que elas estão? tua pele que me arranha e eu anseio por isso, tu me corta com a barba e faz isso porque eu adoro com a mesma paixão da primeira vez. tu és meu ritual de passagem e eu posso na loucura dos meus dias completos e amenos desligar-me de tudo o que vivemos, não porque posso, mas porque amo. esse amor que nos redime e nos une e nos separa e nos faz loucos. eu estava indo embora, tu sabes. mas eu fiquei. tua complacência nos dias de fúria, o som dos trovões e tudo isso. obrigada, tempestade.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

barragem

eu sou a barragem. que figura de linguagem fui arrumar, hein? ás vezes conter você é devastador. principalmente quando me vejo circulando em uma composição de tons vermelho-sangue, onde a música pulsa e para no mesmo ritimo. sempre que você desce eu quero chorar. conter você é devastador às vezes. me sinto um turbilhão de pensamentos torpes, sou a barragem que exercita toda a sua capacidade de produção para não estourar e banhar os parques virgens dessa vida, tornando nosso sofrimento ainda mais insuportável. sou a barragem que cumpre seu papel de conter, segurar, mover, gerar, amar. milhares de litros de água. lágrimas constantes que vazam pelas beradas, despercebidas e ausentes. eu tenho essa tristeza de quando em quando.

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

balada das seis & meia

seus dedos que me tocam
me fazem dançar essa sinfônia
cafona
que me derrete por dentro
você diz que tudo vai ficar bem
susurra tudo no meu ouvido
liquidificador
me esparrama pelo quarto inteiro
em postas
partes expostas
nua, completa
nua de mim
me rasga, que eu gosto
assim
sangue
eu quero, de perto
eu explodo
você tem o dom
de me transformar em água
liquida, perdida
louca
esse papel é meu
de morrer um pouco a cada vez que você saí de dentro de mim
quente e espesso
de me tremer as pernas
tua violência, tão minha
sou sua pequena guerra particular
vulcânica, passível
morrer de amor é uma dádiva





sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

lembrando do ardor de uma vida que não vivi
de copos de bar americanos, refletindo uma luz amarela, fraca
espumosa
eu era a juventude
e hoje, por mais que tente
não consigo mensurar a imensidão de teus olhos verde-água
os olhos mais azuis do texas
tu vestia aquela camisa velha do grêmio
acendia meu cigarro com o teu
e a gente era assim, tão largado
era uma festa sem protagonista
era fluído porque era nada
nunca foi
e então tu foi-se pra ser
pra não voltar mais
e eu esperei
porque é o que fazemos quando somos jovens:
nós esperamos.

não tenho saudade.

aclive

o fio condutor entre tu e eu
                                       é a morte
não a tememos, nunca
nem tempestade nem palavra pouca
divergimos acerca de seus propósitos
eu, de redenção
tu, de castigo
fim, findado
finito e imutável
sem cor e sem glória
sem laço, sem passado nem nada
é a simplicidade versus a aflição
é a versão do teu mundo diante
                                    dos meus olhos cadentes
espero a vida passar em banda
já que és o teu avesso
canto versos de marola e te
                                     embalo em meu peito
"dormes, que é noite"
cuido de ti e velo
tudo o que há de mais
                                 precioso
de mais belo
e de mais silêncioso
morte doce, vida curta
amor de passáros que voam em círculos

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

quântica

vem cá
eu sei que o meu amor te constrange
sempre constrangeu
porque eu quero te sugar até a alma
derramando todas as palavras em cima de você
não cabe
eu sei
e transbordo
saio pelas beradas, louca, correndo
parei o transito só pra dizer

eu fico chorando a beleza inexistente
do que você causa em mim
te criando feitos heroícos
repetindo frases que você nunca me disse
eu sei
é absolutamente ausente
mas eu te tenho aqui 
preso, acorrentado
te faço ficar
pelos motivos errados

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

quero impedir que você morra

então tú está andando por aí
tão seguro e tão cheio de si
esboça até um sorriso
ouvindo essas músicas que me causam afliação
e me doem os ossos todos
de repente, uma catástrofe
uma tragédia
não
eu não permito
nenhum sangue escorrerá de ti
a não ser que seja direto pra mim
pras minhas veias sedentas
nada lhe fará mal
nada lhe doerá
pelo menos não tanto
a pento de lhe causar um ferimento mortal
te dou um rim
falo com Deus, se for o caso
negocio com a morte e dou minha vida como garantia
essa e as mil outras
ando com um desfibrilador na bolsa
pra garantir que teu coração aguente
&
me aguente
árvore da esperança
mantém-te firme
posso lhe salvar de tudo
menos de tu mesmo