segunda-feira, 27 de maio de 2013

dádiva do nilo

foi ali
no coração da avenida paulista
que eu vi
meu sangue se esvair do corpo
feito água
a dádiva do nilo
que me foi dada
era um dia tão lindo, de chuva clara e cristalina
de tons carvão, cinza flamejante
as antenas de rádio interferiam em minhas estações
internas
enormes
era o transtorno
era o transito
era um misto de contentamento e desespero, em seu estado mais puro
era uma alegria bipolar, esquecida
eu estava vagando por entre os carros
eu estava em todos eles
em pedaços
eu sabia que tinha que continuar
eu não sabia como
mas aquilo, ali,
me era predestinado
eu olhei pela janela do ônibus
que em fúria, corria apressado
expurgando todo o pus desses versos
meus
me deixando ser
aquilo que eu nasci pra ser

eu cheguei no topo daquela rua que não ouso dizer o nome e tive certeza:
pra viver essa vida é preciso ter coragem


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