quinta-feira, 16 de maio de 2013

era uma vez na cidade do méxico

eu vi fuligem. fuligem daquela que pega, que gruda, que mancha. eu andei por milhares de caminhos aztecas, eu acenei e venerei aqueles deuses, um por um. o que eu mais gostei foi Tlaloc, deus da chuva. ele me abençoou com uma tempestade pesada, que lavou a fuligem e meu deu uma alma nova. depois veio Quetzalcoatl, deus do vento e senhor da luz, tornando nossos sofrimentos ainda mais insuportáveis. eu andava pelo centro de Tenochtitlan, admirada, na companhia da serpente emplumada, como numa comitiva real. eu, a mais perdida entre as perdidas, desfrutável, quase uma messalina, fui coberta de jóias e sangue dos prisioneiros de guerra. as paredes caíam sobre nossas cabeças, em chamas. dancei sob os tambores do governador do oeste, descalça e nua. Tenochtitlan vibrou em cores, oferendas e amores. trouxeram um puma até mim e eu o beijei com ardor. me convidaram a partir para Teotihuacan, e eu fui, seduzida pelas histórias de belos guerreiros sedentos que haviam por lá. Teotihuacan se incendiu com a minha chegada, e os sacrificios continuaram, com cabeças rolando da pirâmide da lua. todos aplaudiram. Quetzalcoatl me disse então que aquela era uma cerimônia de adoração à uma estrela dos antigos. Tlaloc apareceu e me pediu em casamento. Xochiquetzal, sua mulher, se sentiu ofendida e exigiu meu sacrificio e minha viagem até o inferno, seu dominio. eu aceitei o pedido, porque não é qualquer deusa que podia me desafiar daquela maneira, eu era uma aspirante convidada pelo senhor da noite e seus servos. eu desafiei a deusa da morte e fui contemplada com raios e trovões de toda a sorte. eu morri para tornar aquela cerimônia divina e meu sangue correu a cidade por dias, alimentando aqueles que ali chegavam para ouvir a história.

acordei encharcada na cidade do méxico, suei frio e me levantei para fumar um cigarro, olhando as ruínas do templo maior



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